sábado, 28 de março de 2009

Uma leitura da reportagem “Escrever de verdade” de Thais Gurgel

sábado, 28 de março de 2009
A reportagem “Escrever de verdade da Revista Nova Escola – jan/fev 09 (http://revistaescola.abril.com.br/) cita inúmeros exemplos de projetos e atividades bem sucedidas, voltadas para o aperfeiçoamento das capacidades de leitura e escrita de alunos do Ensino Fundamental em diversas partes do país. Chamo a atenção para a palavra aperfeiçoamento, pois é essa a intenção comum a todos os exemplos citados e que está expressa no título da própria reportagem.
Argumenta-se nesse texto que existe uma diferença entre escrever textos com autonomia e se tornar escritor. No primeiro caso o aluno possui o domínio da norma culta e tem o conhecimento de como se dá a estruturação de cada gênero literário. No segundo, o aluno torna-se capaz de desenvolver ideias e argumentos em um texto. Embora muitos alunos do 2º e mesmo do 3º ciclo não possuam ainda a citada autonomia, o que é por si só preocupante e merecedor de atenção, não é essa a questão abordada. A intenção manifesta na reportagem é a de enumerar o que, para além dessa autonomia, o aluno precisa desenvolver, o que é denominado “percurso de autoria”. Ou seja, não apenas escrever, mas fazê-lo conscientemente,através de uma elaboração prévia.
Boa parte da reportagem destaca que a experiência da revisão, em todas as suas formas, é ferramenta poderosa para que o aluno desenvolva a capacidade de medir a eficiência comunicativa de seus escritos. Esse senso crítico desenvolveria-se cada vez que o aluno revisasse seu próprio texto ou de um colega, individualmente ou em grupo, colocando-se no papel de leitor.
Esta é uma proposta extremamente interessante e, como nos mostram os exemplos citados, eficiente. Mas e se o aluno pudesse perceber sua eficiência comunicativa observando o leitor? E se a “revisão de ouvido” acontecesse ao mesmo tempo que a produção do texto? Imaginemos ainda que no meio de sua argumentação o aluno observasse, pelas expressões faciais do leitor, que ele não está sendo convincente?
Pois essas são apenas algumas das possibilidades que o RPG apresenta. É sabido que na posição de jogador o aluno produzirá principalmente textos orais, mas também essa produção pode ser pensada levando em consideração os objetos de preocupação da reportagem. Também é preciso estruturar bem a fala, articulando argumentos e adequando-se a cada situação comunicativa para, de fato, comunicar-se com eficiência.
Durante uma seção de RPG esse é o maior e constante desafio dos jogadores que precisam se comunicar entre si, muitas vezes com o nítido objetivo de convencer os demais de agir de uma ou outra forma. Para além disso existe a figura do Mestre, árbitro maior do jogo mas que também pode ser entendido como principal leitor dos textos orais produzidos pelos jogadores. No RPG a revisão da adequação do que se diz e de como se dia é constante e concomitante ao próprio dizer. O maior ou menor sucesso de seu personagem estará diretamente relacionado a sua capacidade comunicativa, para além da descrição sumária de ações e fatos.
É assim que jogando o aluno torna-se autor, inicialmente da história de seu personagem, habilitando-se a produzir outros textos, orais ou não, com igual eficiência comunicativa. E se, ao mesmo tempo em que o aluno vivencia o jogo ele for convidado e incentivado a escrever sua experiência e sobre ela, essa transição será ainda mais eficiente.
Evidencia-se assim a validade do RPG enquanto método lúdico para o aperfeiçoamento da capacidade de produzir textos comunicativamente eficientes. Arrisco-me a dizer que, a médio e longo prazo, no caso do RPG, “quem joga de verdade” será capaz de escrever de verdade”.

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